Definição da agressividade na infância

31-05-2011 22:10

 

A agressividade em psicopatologia define-se como:

 
a) “conduta intencionalmente dirigida a provocar lesão ou destruição de um objectivo (pessoa, animal ou objecto)”;
 
b) agressões físicas ou verbais contra os demais (ameaça, empurrões, dirigir-se aos demais com insultos ou gritos);
 
c) agressões contra objectos (quebrar ou atirar objectos ao chão, dar pontapés);
 
d) auto-agressão (bater com a cabeça, arranhar-se, fazer pequenos cortes em si mesmo).
 
Todas estas definições podem formar uma possível classificação de comportamento agressivo.
 
Actualmente e seguindo a classificação estatística dos transtornos mentais da academia americana de psiquiatria (DSM-IV, 2000), este comportamento não se considera por si mesmo uma entidade patológica, mas a parte de um conjunto de sintomas de numerosos transtornos tais como o transtorno anti-social, a esquizofrenia, o autismo, o atraso mental e o transtorno do défice de atenção e hiperactividade.
 
As causas da agressividade
 
As diversas teorias que tentam explicar a agressividade dividem-se, fundamentalmente, em activas e reactivas. As activas ou teorias biológicas, subentende-se a origem interna da agressão, são entendidas como inatas e consistentes à espécie humana. As reactivas explicam os mecanismos ambientais que facilitam e mantêm o comportamento agressivo, destacando entre elas a teoria da aprendizagem  social.
 
Desse ponto de vista da teoria da aprendizagem social, o comportamento agressivo dá-se ante uma situação de conflito que provoca um sentimento de frustração na criança. O tipo de reacção que terá a criança dependerá de como saiba reagir diante dessa situação conflituante. É dizer que dependerá de sua experiência prévia.
 
Os processos pelos quais tenha aprendido a comportar-se de maneira agressiva são a modelagem e o reforço (basicamente a observação por parte da criança de modelos que respondam agressivamente às situações conflituantes). Esses processos actuaram, por sua vez, como mecanismos de manutenção desses comportamentos.
 
Previsão de violência
 
Profissionais de saúde mental geralmente dizem que a violência não pode ser predita e a maioria insiste que a lei não deve pedir-lhes que façam tais profecias ao sentenciar criminosos. Eventos incomuns são difíceis de prever de forma exacta e o comportamento de um paciente numa clínica ou hospital pode ser evidência insatisfatória para outros ambientes e situações, como as brigas domésticas. As predições a curto prazo podem ser mais precisas e as actuais pesquisas podem melhorá-las.
 
Drogas e Psicoterapia
 
Drogas e psicoterapia são usadas na prevenção a longo prazo e na conduta violenta. As drogas mais úteis são os neurolépticos (antipsicóticos), ansiolíticos, lítio, antidepressivos e betabloqueadores. Estas drogas actuam em sistemas de neurotransmissores usando ácido gama-aminobutírico (GABA), noradrenalina (NA) ou serotonina (5-hidroxitriptamina ou 5-HT) e também actuam nos sistemas nervosos periférico e central, reduzindo a ansiedade por supressão da emergência normal da resposta de luta ou fuga do corpo. Impede o comportamento agressivo em pacientes com transtornos cerebrais orgânicos e transtornos explosivos intermitentes.
 
Psicoterapia de vários tipos é usada no tratamento a longo prazo de pacientes violentos, dentro e fora dos hospitais. As drogas geralmente são suplementadas por psicoterapia de suporte oferecendo tranquilização, incentivo e aconselhamento. Terapias de grupo e familiar são úteis em parte porque ocorre tanta violência dentro das famílias e em parte porque os pacientes em grupos discutirão questões que, de outra forma, evitariam. São confrontados por pessoas com problemas semelhantes e colocados numa posição de ajudá-las enquanto se ajudam.
 
O tratamento comportamental e cognitivo de pacientes agressivos visa a substituição sistemática de padrões de pensamento e comportamento potencialmente violentos por outros mais adaptativos. Os behavioristas, por exemplo, pensam na personalidade paranóica, limítrofe e anti-social como padrões de comportamento mal adaptados e rígidos. Modelos cognitivos sanam deficiências em explicações comportamentais simples de violência, levando em consideração expectativas, atribuições, interpretações, objectivos e motivações.
 
Essa psicoterapia é útil principalmente quando a violência resulta de um transtorno da personalidade ou de controlo dos impulsos.
 
Ao tratar pacientes violentos, os terapeutas podem evitar. Uma reacção autoritária ou punitiva, porém, é igualmente má. Violência costuma decorrer de sentimentos avassaladores de impotência e humilhação; uma resposta punitiva somente eleva a sensação de impotência e, portanto, aumenta a probabilidade de agressividade.
 
Mudança dos Padrões Violentos
 
A mudança de padrões violentos pode ser obtida directamente por recompensas manipuladoras e estímulos ambientais ou indirectamente por alternativas de ensino. Os métodos directos incluem punição, correcção excessiva (apologias, reparações), conduta de contingência (contratos comportamentais com penas por quebra) e técnicas de autocontrolo. As respostas alternativas são desenvolvidas principalmente através da prática de habilidades sociais e resolução de problemas. Outros métodos são limitar a exposição dos pacientes a modelos de comportamento agressivo, tornando-os menos sensíveis à provocação e ensiná-los a usar sugestão e auto-instrução para orientar suas acções. Especialmente no caso de transtornos de personalidade, a terapia do comportamento e cognitiva pode ser efectiva mesmo num ambiente controlado, mas os resultados devem ser transferidos para os ambientes quotidianos.
 
Os pacientes que tenham adquirido o hábito de agressividade acham difícil fantasiar, planear ou antecipar consequências. Devem aprender a imaginar respostas alternativas às sugestões que sempre tenham evocado agressividade. Pede-se a eles que registem situações nas quais ocorra violência e observem as recompensas temporárias: respeito intimidado, alívio de responsabilidade, ganho material e assim por diante. As más consequências específicas são então destacadas. Depois de aprender a perceber eventos diferentemente, os pacientes podem ser ensinados sobre outros modos de obter os seus fins através da prática de habilidades sociais, que usa métodos tais como modelos, narrativas, elogios e feedback correctivo. O tratamento em grupo é especialmente útil por ser menos caro que a terapia individual e porque outros membros do grupo podem servir de modelo, parceiros e fornecedores de recompensas.
 
Na prática das habilidades de resolução de problemas, os pacientes são ensinados a ver o ponto de vista de outras pessoas, antecipar as suas reacções e compreender as consequências de suas próprias acções. Nas famílias em que as crianças têm transtornos de conduta, poderá ser útil a prática de conduta familiar. Esta é uma forma de prática de habilidades de resolução de problemas em que os pais são ensinados a usar disciplina consistente como substituto para aspereza inconsistente. Aprendem a dar ordens claras, negociar compromissos e usar formas leves de punição.
 
 
 
Lucinete de Freitas Messina, www.cienciahoje.pt
 
 
Uma das funções do psicoterapeuta é intervir nas situações de  agressividade. Qual a sua função? (Deixa a tua resposta na caixa dos comentários.)

 

André Rocha disse...

O termo psicoterapia (do grego psykhē - psique, alma, mente, e therapeuein - cuidar, curar; primeira referência ca. 1890) refere-se às intervenções psicológicas que buscam melhorar os padrões de funcionamento mental do indivíduo e o funcionamento de seus sistemas interpessoais (família, relacionamentos etc.). Como todas as formas de intervenção da psicologia clínica, a psicoterapia:
utiliza meios psicológicos para atigir um fim específico (a cura ou diminuição do sofrimento, estresse ou incapacidade do paciente, geralmente causado por um transtorno mental),
baseia-se no corpo teórico da psicologia e
é praticada por pessoal especializado (o psicoterapeuta ou psicólogo clínico)
em um determinado contexto formal (individual, em casal, com a presença de familiares, em grupo - de acordo com a indicação).
Em linguagem comum, o termo "psicologia" é muitas vezes usado no lugar de "psicoterapia". Em linguagem mais própria, no entanto, "psicologia" refere-se à ciência e "psicoterapia" ao uso clínico do conhecimento obtido por ela. Da mesma forma, costuma haver confusão entre os termos "psicoterapia" e "psicanálise". Enquanto aquela refere-se ao trabalho psicoterapêutico baseado no corpo teórico da psicologia como um todo, psicanálise refere-se ao trabalho baseado nas teorias oriundas do trabalho de Sigmund Freud; "psicoterapia" é, assim, um termo mais abrangente, englobando outras linhas teóricas além da psicanalítica.