A EVOLUÇÃO HUMANA
31-05-2011 21:31
Anónimo disse...
“O mundo é muito velho e os seres humanos muito novos. Os acontecimentos importantes das nossas vidas pessoais são medidos em anos ou períodos de tempo mais curto, a nossa vida em décadas, a genealogia da nossa família em séculos e os factos a que se refere a história escrita em milénios. Mas fomos precedidos por uma enorme extensão de tempo, que abarca períodos prodigiosos do passado sobre os quais pouco sabemos -– quer por não termos registos escritos, quer por termos uma real dificuldade em apresentar a imensidão dos intervalos que medearam entre esses períodos.”
“O homem é um animal. Este facto elementar é ignorado em psicologia com excessiva frequência. O homem é um organismo biológico semelhante a outros animais e, particularmente, a outros primatas, pela sua estrutura, pelas suas funções e até pelos seus padrões de comportamento. Além disso, o homem é um animal muito recente. O Homo Sapiens moderno apareceu há cerca de cinquenta milhares de anos – o que não representa no calendário biológico um espaço de tempo muito grande. Se tentássemos traçar a árvore genealógica do homem, para além de duzentas gerações, os seus antepassados começariam a parecer-se muito pouco com os actuais seres humanos. Os primeiros antepassados do Homem começaram a divergir de outras linhas de primatas há, aproximadamente, dois milhões de anos. Durante a maior parte deste tempo, as forças irresistivelmente poderosas da selecção natural deram ao homem a forma de um primata caçador e recolector de alimentos. A cultura de cereais e a domesticação de animais, actividades que conduziram à formação de populações estáveis e, no essencial, à civilização, tal como actualmente a conhecemos, ocorreram apenas nos últimos dez milhares de anos, muito depois de o homem ter já alcançado plenamente a sua forma e aptidões actuais. O homem é a espécie mais terrivelmente bem sucedida (alguns acrescentariam de ‘caçador carnívoro’) que alguma vez apareceu à face da terra, e este passado modelou o seu presente.”
THOMPSON, op. cit., p. 23
Os dois textos que te apresentámos apontam para duas conclusões: os seres humanos são muito recentes, tendo em conta a história do mundo; os seres humanos são produto de uma evolução.
Foram as pressões do ambiente que provocaram a evolução do ser humano a partir dos primatas superiores – a passagem da floresta para a savana obriga os nossos antepassados a descer das árvores e a caçar, para sobreviver. As características físicas e as aptidões comportamentais têm que se adaptar ao novo habitat: desenvolve a locomoção bípede e a postura vertical, libertando as mãos das suas funções locomotoras; a mão transforma-se num instrumento flexível graças à oponência do polegar que permite uma pressão mais forte e precisa.
As mãos passam a ser capazes de fabricar e utilizar utensílios e armas. Contudo, estas actividades só são possíveis graças ao desenvolvimento do cérebro. É o cérebro que conduz a mão, que é sede de inteligência e centro da linguagem.
São as pressões do ambiente – mudança do ecossistema – que desencadearam todo um conjunto de transformações anatómicas que pressupõem mutações genéticas.
Para Edgar Morin, é a dialéctica pé–mão–cérebro que irá libertar o Homem do domínio da natureza. Na base do processo de hominização está a adaptação activa ao meio (práxis), isto é, o Homem modifica a natureza e, ao transformá-la, transforma-se.
A todo este processo é inerente o desenvolvimento de relações de cooperação que se vão concretizando numa organização social cada vez mais complexa. A fala, o meio de comunicação entre os indivíduos, é inerente à vida social e à própria sobrevivência da espécie. Para Edgar Morin, no processo de hominização intervêm, de forma interactiva, múltiplos factores: ecológicos, genéticos, sociais e culturais.
As contribuições de Darwin na psicologia
A obra de Darwin trouxe várias consequências para a psicologia. Em primeiro lugar, cai definitivamente a barreira que separava o Homem do animal – sendo o Homem produto da evolução, o seu comportamento tem muitas semelhanças com o comportamento animal. Poderemos localizar a origem da psicologia animal nos trabalhos de Darwin.
Em 1872, publica A expressão da emoção no Homem e nos animais. Nesta obra, Darwin propõe-se estudar a emoção humana, tendo para o efeito recorrido a diversas fontes. Recolheu, junto de psiquiatras, dados sobre as expressões da emotividade em doentes mentais. A partir de relatos de antropólogos de observações feitas em povos primitivos, procura traços comuns nas expressões da emoção. Para além disto, observa e regista os comportamentos dos seus filhos em diferentes situações: de fome, de frustração, de agressividade. Fotografa, igualmente, pessoas em situações emocionais.
A partir de todos estes dados, procura descrever detalhadamente as expressões emotivas associadas ao medo, à cólera, à alegria, à vergonha: postura corporal, mímica facial, movimentos característicos.
Procurou ainda comparar as manifestações da emoção nos animais – concretamente nos macacos –, considerando que muitas delas são comuns aos seres humanos. Este estudo comparativo serviu para confirmar as suas teorias sobre a evolução. Muitos etólogos contemporâneos retomaram esta linha de investigação.
Para além da importância do conteúdo dos seus estudos, Darwin surge como um precursor de modernas tendências em psicologia que valorizam o estudo do comportamento não verbal, bem como o recurso a várias fontes de informação e a vários métodos de observação.
A importância do meio e a adaptação que provoca passaram a ser, a partir de Darwin, um tema central, não só em psicologia, como em muitas outras ciências.
Monteiro, M., Santos, M. Psicologia, Porto: Porto Editora, pp 130-132 (adap)
Vejam o significado do conceito "evolucionismo".
O evolucionismo é uma doutrina que admite a evolução orgânica das espécies. Presente desde a Antiguidade, inquietando espíritos mais avisados (como Anaximandro, Tales e até Aristóteles), a tese da evolução dos seres vivos só se conseguiu impor com o advento da paleontologia e dos trabalhos de Lamarck e de Darwin no século XIX.
André Rocha nº4 /12ºA