O BEIJO NA BOCA
31-05-2011 21:42
Anónimo disse...
Sinal de estima, de amizade e de afeição, o beijo na boca ocupa desde a Antiguidade um lugar nos ritos de saudação. Mas é sobretudo na Idade Média, nos séculos XI e XII, que adquire um significado público com a homenagem vassalática ou aquando das cerimónias de ordenação dos padres. Essencialmente masculino e elitista, tem então o valor de um selo, de pacto indissolúvel. Ratifica solenemente a entrada numa comunidade.
O beijo na Antiguidade: saudações e amores masculinos
Labão, acolhendo o seu sobrinho Jacob “ocorreu ao encontro dele, abraçou-o, beijou-o e conduziu-o para sua casa” (Génesis, 29, 13). Entre os Hebreus, o beijo, que era praticado como gesto erótico ou afectuoso, tinha também o seu lugar nas saudações. Trocava-se sobretudo entre membros da mesma família, antes ou após uma ausência prolongada. Este gesto podia igualmente marcar a reconciliação ou o perdão. Assim, para significar que perdoava o assassínio de Amnon, David beijou Absalão (2º Samuel, 14, 13). Acompanhado por uma prosternação prévia, o beijo demonstrava o respeito especial devido a um hóspede, um amigo, um parente; “Moisés foi ao encontro do sogro, inclinou-se diante dele e beijou-o. Depois de se terem informado da saúde um do outro, entraram para a tenda de Moisés” (Êxodo, 18, 7). O costume perpetua-se até à época de Jesus: o Mestre repreende um dia Simão-Pedro por o não ter honrado com um beijo (Lucas, 7, 45) e Judas dá um beijo a Jesus para o designar àqueles que vão prendê-lo.
Entre os Persas, o beijo de saudação só se praticava na boca entre pessoas de igual nível: “Quando dois persas se cruzam no caminho, eis o que permite reconhecer que são da mesma categoria: em vez de pronunciarem formas de delicadeza, beijam-se na boca; se um deles for de categoria um pouco inferior, beijam-se nas faces; se um deles for de origem muito inferior, põe-se de joelhos de prosterna-se diante do outro. Note-se que o carácter igualitário do beijo na boca e a hierarquia marcada pelos diferentes beijos (na mão, no pé, na roupa) se encontram muito tempo depois de Heródoto em diferentes rituais da Idade Média ocidental.
Parece não ter sido conhecido na antiga Grécia o costume do beijo de saudação na boca, “salvo entre pai e filho, irmãos ou amigos excepcionalmente próximos e queridos”, antes da segunda metade do século IV a. C. Ter-se-ia então estabelecido entre os Gregos um uso mais corrente do beijo por influência de Alexandre, vencedor dos Persas. Este costume ter-se-ia depois expandido de tal modo que “até pessoas que o acaso reunia, companheiros de viagem improvisados se beijavam cordialmente” no século II d. C. Esta evolução está em tudo de acordo com a dos gestos de saudação entre os Romanos.
Os últimos decénios da República terão provavelmente assistido à difusão do beijo de saudação, anteriormente regulamentado pela “lei do beijo” (ius osculi). Este costume obrigava as mulheres a conceder o beijo aos membros da sua família chegada e impunha que as pessoas próximas dos magistrados os honrassem com o mesmo gesto. No século I a. C., os amigos íntimos beijavam-se sem cerimónias por ocasião de reencontros ou separações.
Assinalemos por fim que em Mégara, no tempo de Teócrito (século III a. C.), tinha lugar um concurso de beijos reservados aos rapazes. Nesta prova, aquele que imprimisse “mais suavemente” os seus lábios nos lábios do juiz regressava a casada sua mãe “carregado de coroas”. O concurso, único no seu género, tinha lugar no túmulo de Díocles. Este guerreiro protegera o seu “amado” numa batalha cobrindo-o com o seu escudo e também dera a vida para o salvar. Os beijos dos rapazes imortalizavam a bravura do herói, recompensando-o a título póstumo.
A Idade Média parece não ter conhecido práticas semelhantes a esta de Mégara, mas é impressionante verificar que muitos dos costumes e características do beijo presentes na Antiguidade (ritualização do gesto, sentido igualitário, masculinidade) voltam a surgir, nomeadamente em França nos anos 1050-1250.
CAHEN, Gérald, História do Beijo, 1998. Lisboa: Edições Círculo de Leitores, pp. 19-21
A cultura varia no tempo e no espaço.
O beijo é das mais importantes manifestações culturais e um dos mais importantes ritos de saudação. Faz uma reflexão sobre o conceito de relatividade cultural tendo em atenção e exemplo dado pelo texto. Deixa a tua resposta na caixa de comentários.
A relatividade cultural ensina que uma cultura deve ser compreendida e avaliada dentro de seus próprios moldes e padrões, mesmo que estes pareçam estranhos e exóticos. Os grupos humanos têm direito de possuir e fazer desenvolver a própria cultura sem interferências externas ( Direito e autonomia tribal).
O beijo tem tido uma evolução ao longo dos tempos nos dias de hoje tem vários significados nas diferentes culturas.
André Rocha nº4 / 12ºA